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sábado, 18 de maio de 2013

18 DE MAIO - DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

Celebra-se hoje o Dia Internacional dos Museus. Quase todos os museus nacionais tiveram uma programação especial e horário alargado até às 24horas, tudo completamente grátis, para além de livros com descontos, a preços muito convidativos.
Não podendo ir a todos, escolhi dois - O Museu Arpad Szenes Vieira da Silva e o Museu do Azulejo.

 
No primeiro, pude beneficiar duma visita guiada da exposição retrospectiva da obra de Vieira da Silva (que esteve anteriormente no Brasil, mas aqui enormemente enriquecida com espólio local da pintora e de artistas que com ela se cruzaram durante a sua permanência no Brasil) e assistir à leitura do poema "Memória de um pintor desconhecido",  de Mário Dionísio, magistralmente interpretada por Jorge Silva Melo.
 


A obra de Vieira da Silva é por demais conhecida, mas será que o é a sua vida de apátrida, durante quase trinta anos? A pintora casou com Arpad, húngaro; ao tempo, a mulher portuguesa que casasse com um estrangeiro perdia automaticamente a nacionalidade portuguesa porque adquiriria a do marido (imagino - ou antes, dado o desenrolar da história, quero acreditar - que só assim não seria se a lei nacional do marido não previsse essa aquisição, caso em que se manteria a nacionalidade originária). Porque Arpad era judeu, teve que fugir da Hungria e perdeu a nacionalidade, perca que se comunicou a sua mulher. Em 1939/40, o Estado Português recusou-lhes a nacionalidade portuguesa. Dados os ventos de guerra que assolavam a Europa e a incerteza da posição de Portugal, o casal emigrou para o Brasil, onde passou 7 anos sem nacionalidade! No pós 2ª Guerra, tentaram, de novo, a atribuição de nacionalidade portuguesa e, mais uma vez, não conseguiram, agora porque Arpad era oriundo de um país da Cortina de Ferro, ainda que este tão pouco lhe reconhecesse a nacionalidade... Até que, nos anos 60, o Estado Francês lhes concedeu a nacionalidade francesa.
Não tenho palavras para expressar a vergonha que sinto por isto ter acontecido nem consigo imaginar como terá sido viver como pária e apátrida - sem chão, sem raízes, sem pertença...
 
Ficam aqui duas belas fotos que retratam o exterior de uma das mais belas praças de Lisboa (o jardim das Amoreiras) vistas do interior do museu.








 
 





Visitem-no, o Museu está a atravessar dificuldades e precisa de público para sobreviver e, afinal, uma entrada custa menos do que um bilhete de cinema...


A segunda parte do Programa foi no Museu do Azulejo - o único no mundo dedicado ao tema.
95% dos visitantes são estrangeiros. Isso mesmo, 95%, apesar de o museu ser gratuito aos domingos de manhã até às 14h e haver visitas guiadas só para portugueses que são grátis. O Museu tem igualmente um restaurante muito simpático, podendo no Verão ser usado o jardim interior para esse efeito. Além disso, fica num convento manuelino, fundado pela Rainha  D. Leonor, que para aí se retirou quando enviuvou, e que sobreviveu ao terramoto. Tudo razões mais do que suficientes para o visitar.
Aposentos de D.Leonor . tecto original
Aposentos de D.Leonor . chão original
(e instalação de novos ceramistas)









Hoje tinha um programa super-intenso (notava-se no cansaço dos funcionários e voluntários, absolutamente inexcedíveis) com visita à colecção, um concerto de guitarra clássica, um missa crioula e ainda a um espectáculo de  mornas e coladeras (não assisti).
Houve igualmente a inauguração de exposição colectiva de jovens artistas que trabalharam em Alcobaça tendo produzido um acervo super-interessante, de que deixo algumas fotos. 

Alguns nomes são conhecidos, outros nem tanto, mas inserem-se certamente numa corrente de arte popular que está a dar frutos e oxalá tenham tanto sucesso como a Joana Vasconcelos.



Aprendi que o barro preto não é feito com um tipo especial de argila mas apenas escurece porque durante o processo de cozedura se colocam no forno materiais que absorvem a água e tornam o barro negro (por exemplo, giestas...)
















E também aprendi que a porcelana chinesa "bago de arroz" é mesmo feita com bagos de arroz, que se colocam na massa e que, quais pipocas, "incham" durante a cozedura, adquirindo aquela transparência muito própria.













A título de curiosidade, azulejo, etimologicamente, vem do árabe az-zulaiji, “pedrinhas lisas” e nada tem a ver com a cor azul. O facto de na época de ouro do barroco se ter utilizado primordialmente o azul teve a ver com a influência da porcelana chinesa que utilizava tais cores e que acabou por ditar a moda em todos os países europeus que andaram pela China (veja-se a porcelana de Delft).

Ficam uns apontamentos de trabalhos influenciados pelas nipónicas camélias (japoneiras, na minha terra), as minhas flores favoritas.



O chão da sala do cadeiral é cubista avant la lettre"...


 
 
 












Amanhã de manhã, e todos os Domingos do ano, os museus são igualmente grátis. É aproveitar! Porque a cultura não ocupa lugar e pode ser grátis.
 
 

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