Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões
Lembrei-me deste soneto, que tanto me tocou aí pelos meus catorze anos, a propósito do dia da espiga que se vai celebrando ano após ano - compramos um pequeno ramo que guardamos durante os próximos doze meses, com a secreta esperança de que assim tenhamos a alegria, a saúde, o amor, e a abundância que tanto medo temos de perder.
Guardemos, pois, o pequeno raminho como forma de nos lembrar que o tempo passa mas que há um eterno retorno ditado pelo ritmo das estações cuja constância e permanência nos ajudam a criar raízes e a acreditar que há um futuro.
Sem comentários:
Enviar um comentário