Páginas

domingo, 21 de abril de 2013

CONVIDEI PARA JANTAR O MEU RESTAURANTE DE SONHO

QUATRO ESTAÇÕES
é o nome do meu restaurante de sonho que fica a Leste da Lua e a Oeste do Sol, no alto dum monte com vista cativa sobre o mar. Tem um jardim de oliveiras, alfarrobas, figueiras, amendoeiras e azinheiras, marmeleiros, algumas laranjeiras e limoeiros, e nele explodem, no Verão, tufos de alfazemas cujo azul nos refresca de uma maneira sem igual e cujo doce perfume atrai enxames que nos embalam no torpor do seu zumbido.
No Inverno, a vegetação desnuda-se sem pudor, hibernando num pousio que a preparará para as novas estações de calor que se hão-de seguir.

A Primavera e o Outono são as estações de transição, as mais equilibradas, sem calores e frios excessivos, pontilhadas pelas cores doces das árvores de fruto floridas e pelos ocres e magentas das folhas que preparam a sua despedida de mais um ciclo anual.

No quintal há uma pequena horta e muitas ervas aromáticas. Também se podem encontrar alguns animais de criação.
É uma casa antiga, de tons ocres, com janelas pequenas que impedem as trocas térmicas. Da varanda da sacada tombam trepadeiras da inebriante madressilva e há glicínias com fartura.
No interior há uma grande lareira que se acende no Inverno e empresta às paredes brancas as cores vivas do fogo que nos aquece e ajuda a suportar a mais dura das estações. Ainda no Inverno, há mantas de cores quentes nas cadeiras e tapetes no chão.

No Verão as portadas de madeira quebram a invasão dos raios abrasadores e a nudez da tijoleira confere um extra de frescura. À noite, podemos jantar no exterior - a altitude, a profusão de gerânios e de citronela enxotam insectos indesejados.

Nos dias soalheiros das estações mais frescas podemos almoçar ao ar livre e aproveitar a quietude dos dias que passam com vagares sábios de quem já viveu muito e sabe que não há que viver com pressa pois a vida disso se encarregará.

As mesas têm toalhas de pano e pratos brancos.

Há quatro ementas por ano, uma para cada estação, que se diferenciam pelos produtos que usam – sempre só e apenas o que há em cada momento – e pelos métodos de confecção.

Se o Inverno tem estufados longos de vegetais, empadões no forno, maior carga proteica e energética, quiçá um ou outro prato de carne, proveniente dos pequenos animais da criação caseira, sopas mais substanciais, sobremesas ricas e cereais fortes – a aveia, o arroz integral de grão curto, o trigo-sarraceno, o arroz e o millet glutinosos -, logo na Primavera se seguem pratos de transição, de limpeza – cozinhados mais rápidos, menos forno e menos lume, cereais como a cevada, o arroz de grão médio/comprido, o millet, as sêmolas, as massas, os vegetais levemente escaldados. Já o Verão prima pela leveza, pelos pratos frescos e descomplexados como couscous, taboulehs, sopas frias, polentas, gelatinas e outras sobremesas leves e, claro, fruta fresca e saladas cheias de cor e aromatizadas pelas muitas ervas de cheiro vindas da horta. Chegados ao Outono, nova transição nos prepara para o Inverno que há-de voltar, desta vez repleta das cores de terra, ocres, magentas, ferrugens – polentas no forno, sopas de millet, grão, lentilhas vermelhas e castanhas.

Do mar chegam alguns peixes que enriquecem o cardápio, preparados sempre com a maior das parcimónias – um pouco de sal, uma grelha ou um cesto a vapor, ou então uma sopa de peixe, que faz as vezes de refeição completa.

Leguminosas há-as sempre, frescas na estação própria, secas durante o resto do ano, em sopas, guisados ou simplesmente cozidas e temperadas com um fio de azeite e umas ervas de cheiro.

Da horta vêm também a camomila, a cidreira, a verbena e a erva príncipe que, infusas, ajudarão as digestões mais preguiçosas.

Nas noites sem luar, podem ver-se as estrelas e as constelações, fazer desejos quando uma estrela cadente incendeia os céus.

E o desejo maior é que locais como este possam transformar-se de sonho em realidade e se imponham ao frenesim dos dias uns atrás dos outros, em que tudo é feito em modo automático e sem verdadeira e genuína fruição...

No meu restaurante de sonho podemos encontrar as seguintes paletas de cores e sabores, calmamente embaladas pela música mais apropriada a cada estação.


Música de Primavera

Menus de Primavera

Menus de Primavera



Música de Verão

Menus de Verão

Menus de Verão









Música de Inverno

Menus de Inverno

Menus de Inverno

E com este post participo na 12ª Edição do Convidei para Jantar, iniciativa da Ana de que a Cozinha a Cores da Manuela é este mês a anfitriã.

7 comentários:

  1. Uma maravilhosa participação, tão rico é o lugar como tudo o que ele oferece. Tenho a certeza que senti os cheiros intensos das estações, tal como todos os seus sabores e todas as cores. Sobre o cardápio há a registar a mestria de quem conhece de que é feita uma boa mesa.
    Já agendei sem falta uma visita a este restaurante de sonho, num lugar "a Leste da Lua e a Oeste do Sol, no alto dum monte com vista cativa sobre o mar".
    Adorei.

    Um beij para todas
    MM

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manuela,
      Fico contente que tenha gostado desta participação pois sinto que é importante que os anfitriões do CpJ sejam recompensados, por via da adesão e participações, com a dedicação e empenho que eles próprios colocaram no desafio a que se propuseram,
      Também gostei muito da sua cozinha a cores, que já tinha ficado a conhecer na anterior Edição do CpJ (Pintores), e passarei a ir lá regularmente.
      Bjs

      Eliminar
  2. Um encanto este restaurante. A ver se um dia deste dou um salto a Leste da Lua e a Oeste do Sol.
    Parabéns pelo seu restaurante.

    Delicatessen

    http://www.ddelicatessen.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Delicatessen,
      Quando descobrir onde fica esse lugar mágico não deixe de me dizer...
      Até agora, não me posso queixar dos (meus) cardápios mas fazem-me falta as alfazemas, a madressilva, as glicínias, as ervas de cheiro, as noites estreladas de Verão...
      Bjs.

      Eliminar
  3. O restaurante que fica a leste da lua e a oeste do sol está no horizonte.
    Nunca o alcançaremos. Se andarmos 10 passos, ele se distanciará 10 passos.
    Quanto mais o procuramos menos o encontramos, porque se vai distanciando.
    Então qual a sua utilidade?
    SERVE PARA CAMINHAR

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caminante, son tus huellas
      el camino, y nada más;
      caminante, no hay camino,
      se hace camino al andar.
      Al andar se hace camino,
      y al volver la vista atrás
      se ve la senda que nunca
      se ha de volver a pisar.
      Caminante, no hay camino,
      sino estelas en la mar.

      (Caminhante, são teus rastos
      o caminho, e nada mais;
      caminhante, não há caminho,
      faz-se caminho ao andar.
      Ao andar faz-se o caminho,
      e ao olhar-se para trás
      vê-se a senda que jamais
      se há-de voltar a pisar.
      Caminhante, não há caminho,
      somente sulcos no mar.)

      Antonio Machado - 1875-1939

      Eliminar
  4. Que amoroso e imaginativo restaurante, situado entre os nossos sonhos e com ementas sazonais deliciosas. Adorei e encontrar-nos-emos por lá muitas vezes.

    Bjnhos e um final de semana inspirador.
    http://saborescomtempo.blogspot.pt/

    ResponderEliminar