O
desafio para participar no desafio “Convidei para jantar”, inciativa da
Anasbageri e de que este mês é antitrião o blogue paodecereais
veio deixar-me um bocado atrapalhada, já que não sou muito destas
coisas. Prefiro meter as mãos na massa e ficar por aí. Mas a insistência da
minha irmã foi tal que acabei por, apesar da minha resistência, ir pondo as
ideias a marinar e fazer uma viagem no tempo, tentando ver agora à distância
como cheguei à conquista da cozinha, um lugar onde gosto de me mexer, sem
pressas e sem muitos rodriguinhos, um pouco à moda da Filipa Vacondeus, com
alguma pronúncia do norte. Dizem que foi
à minha avó Teresa, transmontana que a vida trouxe para o Porto, cozinheira de
fogão de lenha mesmo na cidade, que fui buscar esta “mão” para a cozinha, uma
cozinha sem pretensões, atenção, como aliás vão ver.
E
foi precisamente nessa minha avó que pensei, e como seria engraçado tê-la à
minha mesa – desde que não estivesse, claro, no seu jejum mensal, todo o dia só
chá, “brandinho”, como sempre se tomava, em cumprimento fiel do preceito da
igreja, sem se tentar com a compra da bula que dele a dispensaria. O que
prepararia para ela? Talvez pataniscas
que, tal como as faço, estão assim entre as iscas (espécie de bacalhau
albardado) e as larocas – não vem no dicionário, mas era assim que se chamava à
versão mais aguada, que farfalhava no óleo e era preciso dobrar para ganhar
mais volume.
Para acompanhar, um arrozinho de favas - sempre
gostei de favas, ao contrário dos meus irmãos e até fiz disso uma fonte de
rendimento, pois pagavam-me para comer a sopa deles.
Por
falar em sopa, veio-me à memória uma outra reminiscência da infância, uma sopa
de segundas-feiras, quando pouco havia em casa e não era dia da
hortaliceira passar. Sim, porque nessa
altura ainda não tínhamos frigorífico, não havia sequer minimercados, a peixeira vinha à
porta, bem como a leiteira, o bananeiro, as galinheiras, etc.. Mas criavam-se
galinhas e, por isso havia sempre ovos e ervas no quintal. E lá vinha a tal
sopa de cebola e pão, com ovo e hortelã, uma delícia de aromas e sabores.
Muitos anos mais tarde, quando a minha filha nasceu, na Maternidade Alfredo da
Costa, nas três segundas feiras que lá passei, a sopa era uma versão menos
aromática e menos saborosa, talvez, mas que o meu apetite e felicidade
transformaram num verdadeiro pitéu.
E
lá continuei a minha deambulação, sem saber nem quem convidar, nem o que fazer.
Foi quando me lembrei de uma situação em que, depois de uma semana de férias em
Espanha, à mesa do jantar, cada um começou a antecipar o que iria comer quando
regressasse a casa e a salivar nessa antecipação e a minha filha, então adolescente,
perguntou: “Mãe, fazes um arrozinho de peixe?”. Acho que este prato tão
simples, criado para ser (mais) uma
forma de levar uma criança a comer peixe, acabou por se transformar numa imagem
de conforto, de casa, tal como eu muitas vezes pensava em empadão, tão simples
como isso.
E
foi aqui que decidi a ementa para um jantar de improviso, para a Maria João e
para o João, que já é suficientemente da família para apreciar o meu arroz de
peixe. É verdade, tenho que pôr o banco no sítio, para aquela conversinha do costume, os
“entretantos” antes do jantar…
Corta-se
cebola e dentes de alho, que vão a estalar em azeite, sem tostar, e junta-se um bom ramo de “cheiros” migados – salsa, coentros e hortelã -, sem deixar fritar, e a farinha necessária para engrossar o caldo, envolvendo bem.
Acrescenta-se água bem quente,
mexendo para engrossar.
Imediatamente antes de servir, com o caldo bem quente, junta-se ovo batido, mexendo com um garfo para formar fios.
Nota: Em vez da farinha pode usar-se pão duro ou millet.
Arroz de peixe
Coloca-se o peixe no tacho, com
cebola cortada e alho, como se fosse a estufar, tapado, salpicado com sal e com um pouco de água, de modo a não pegar e a retirar do peixe todo o suco.
Quando
estiver macio, retira-se do tacho, limpa-se de peles e espinhas, e corta-se em pequenos cubos.
Entretanto, no molho do peixe põem-se cenouras aos bocadinhos e ervilhas, que se deixam uns minutos a ressuar, sem deixar cozer muito.
Salteia-se o arroz nesta mistura, e acrescenta-se a água quente –
cerca do triplo da quantidade de arroz.
Quando o
arroz está a meia cozedura juntam-se os pedaços de peixe, retificam-se os temperos e a quantidade de água, a gosto e, querendo, salpica-se com coentros frescos migados.
Colocam-se as maçãs inteiras – de preferência golden ou royal gala, pois são bastante doces e não se desfazem - com pícaro e tudo num tabuleiro de forno
e põe-se água até 1/3 da altura, pelo menos.
Leva-se ao forno e vão-se regando com a água, até ficarem cozidas a gosto.Naná
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