Nas vidas de todos nós há sempre “aquele
Verão” que nos marca e fica para sempre nas nossas memórias – pode ser o Verão
do primeiro namorado, do primeiro beijo, o último que partilhamos com aqueles que
iam ser nossos amigos para todo o sempre ou em que vivemos as últimas loucuras
da adolescência ou da juventude. É um Verão de passagem, que marca rupturas com
o nosso eu e com aquilo que queríamos e críamos iria ser imutável para o resto
das nossas vidas.
É o Verão azul de mares e céus
que nunca mudarão de cor, de nuvens que permanecerão imóveis, de ventos que se suspendem,
em que a eternidade e o que se lhe há-de seguir são nossos, em que a mera ideia
de que há-de vir um Outono e depois um Inverno e uma Primavera e de novo um
Verão só não nos é insuportável porque sabemos – com a certeza da inconsciência
que nos habita – que isso é simplesmente impossível. Existe o aqui e agora.
Nada mais.
Esse meu Verão foi o de 1979, no
Algarve. Acho que foi nesse Verão que vi, num cine-esplanada entretanto
demolido, o filme “Verão de 42”. Tem tudo a ver.
Adolescente, mal saída da
infância, lia Astérixs e “A Mística feminina”, da feminista Betty Friedman. No mesmo
cine-esplanada, ao ar livre, assistia a filmes tão díspares como “Mary Poppins”
e “Júlia” – com Jane Fonda (a minha Meryl Streep de então) e Vanessa Redgrave. De manhã, na praia, devorava Patinhas e Patos Donald, à tarde, concentrava-me
em ler a História do Império Romano e já não sei mais o quê, para os exames de
acesso à faculdade. À noite, via a série “Eu, Cláudio”, sobre o imperador
romano gago, marido de Messalina. Em simultâneo, ouvia Cohen, Simon&Garfunkel,
Lennon, Pink Floyd e Elton John. E conseguia gostar de tudo…
Dessa amálgama, sobraram os Astérixes (tenho-os todos), Cohen –
sempre, sempre, sempre – S&G, o Cláudio gago, e, sobretudo, o curso, que me sustenta…
É verdade,
no meio de toda aquela confusão, entrei na faculdade, donde saí com o canudo no
tempo regulamentar.
E nunca mais houve um Verão igual...
Recordo-me de, num Sábado desse
Verão de 1979, ter ido a uma sardinhada no meio do campo – ou seja, o Algarve
barrocal em perfeita harmonia com o Algarve litoral, donde vinham as sardinhas. Não me lembro
onde, quem convidou nem a que propósito. Lembro-me, isso sim e como se fosse
hoje, do sabor das sardinhas assadas e seus sucos sobre o maravilhoso pão
algarvio e da percepção que então tive de quão bom o pão algarvio é.
Hoje, tendo compromissos agendados à noite relacionados com
aborrecidas obrigações de adultos chatos, burgueses e estabelecidos, preparei,
com avanço, uma refeição rápida, numa tentativa de recriação – m u i to a o d e l e v e, d i g a - s e, daquelas sardinhas
assadas do Verão de 1979.
Pão de sardinhas (na MFP)
500gr de
mistura de pão com farinha de milho3 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de orégãos secos e 1 colher de sopa de tomilho seco
1 lata de conserva de petingas
1 lata de conserva de filetes de sardinha
300ml de água
Colocar os
ingredientes na MFP pela seguinte ordem: a água, o azeite, a farinha.
Seleccionar o programa de bolos (2h
- 30m a amassar e 1h30m a levedar);
quanto a máquina apitar (ou 5 min. antes de acabar o tempo de amassar), deitar
os orégãos e o tomilho na massa. Uma vez terminado o tempo, tirar toda a massa
e voltar a forrar o fundo da forma com massa, colocar lombos de sardinhas e algumas
petingas, repetir duas vezes, terminando com uma camada de massa., que se
polvilha de orégãos e tomilho. Seleccionar o programa “cozer” (1h), retirar da
MFP no termo do programa, deixar arrefecer.
Servir cortado em fatias acompanhado de salada e de um tinto
da Beira Interior, daqueles que ou nos fazem esquecer que alguma vez tivemos16
anos ou então nos fazem pensar que os voltamos a ter…
E assim volto a ter uma história para o passatempo da Maria do blogue [Limited Edition] Passatempo Conservas Nero e Limited Edition.
Memórias relacionadas com bons momentos junto de comida nao faltam neste blogue e fico muito contente que figurem no meu passatempo! Obrigada por mais uma excelente participa! Bjs
ResponderEliminar